quarta-feira, 29 de julho de 2009

Coisas que funcionam





Tipo carros e televisões e batedeiras. Ou parecido.A verdade é que o objectivo de um filme ou de um disco não é muito diferente do de uma batedeira: funcionar. a diferença está na variedade de funções de um ao invés do outro. Nisso e no facto de ser fixe comparar cinema, música, e até literatura a uma batedeira. Do caraças.

Adiante. Para um filme funcionar é preciso que cumpra aquilo a que se propôs.Tanto pode ser retratar impecavelmente a mais pérfida natureza humana como meter gajas nuas a conduzir grandes carros. Para cada filme existem objectivos simples a que ele se deve propôr. O grande problema é quando o grande objectivo deles é pura e simplesmente ganhar dinheiro, mas enfim nem quero ir por aí.

Bruno e the hangover são duas comédias completamente diferentes. a primeira muito mais nonsense e arriscada, a outra curta e grossa simples e objectiva. Bruno é andar numa montanha russa e vomitar a meio caminho, e the hangover é andar nos carrinhos de choque.

Que Baron Cohen é um génio eu já sabia. Acho que borat é um filme brilhante a todos os níveis, e não consigo perceber quem o critica. Bruno não é tão bom por algumas razões: primeiro porque o formato é igual ao de borat - documentário fictício(aka mockumentary) desta vez sobre um repórter de moda gay. Depois bruno não é uma personagem culturalmente tão "peculiar" como borat porque vem de um país dito "civilizado" como a imaculada áustria. E finalmente por causa da extrema paneleirice. Isto não é nenhum comentário homofóbico, mas um gajo não curte ver a quantidade abusiva de pilas que existem em bruno ou algumas das imagens do chamado coito homossexual - embora elas tenham servido realmente o seu propósito: chocar o espectador.

È um filme que pretende chocar, fazer rir e desmontar preconceitos. E desafia o espectador no sentido em que o tenta colocar numa posição em que nem está propriamente do lado de bruno nem está com o resto da sociedade. Bruno provavelmente é capaz de ter feito mais pelas bichas do mundo(não falo dos homossexuais mas das bichas) que qualquer parada gay. Porquê? Porque foi ao extremo das reacções das pessoas. E o pior é que muitos de nós, eu incluído poderíamos ter algumas reacções semelhantes a muita daquela gente. Preconceito ou nojo puro? Pois. ambos provavelmente.

Borat não é tão bom como bruno mas funciona. e volta a extravasar o género cómico, passando-o a filme de intervenção, embora bem longe daquilo que borat fez. Este foi uma derivação da genialidade do repórter cazaquistanês.



E chega o filme da pausa. The hangover vence tudo. Primeiro porque é simples. Curto e grosso. Faz rir e é só esse o grande objectivo. E no meio de toda a rambóia até é um filme bastante conservador já que tem um happy ending certinho, a personagem negra da praxe e personagens convencionais. E com tudo isto consegue fazer rir(muito) e ter uma premissa que consegue duas coisas: identificação com o espectador e vontade de o fazer ver o filme.

Identificação porque convenhamos: já toda a gente, ou quase toda, passou pela situação de ter apanhado uma borracheira e não se lembrar do que fez na noite. e muitas vezes fez mesmo coisas...hum menos próprias ou vá desinibidas. E no dia seguinte é um sarilho a tentar compôr o filme que não existe na memória.
Quanto à vontade se saber o que vem a seguir, é um truque muito básico do argumento mas eficaz como tudo: não mostrar o principal do filme. Tudo gira à volta de uma noite que nós não sabemos como se passou. Estamos exactamente na mesma situação dos personagens, e vamos percorrendo níveis de um qualquer videojogo(dos bons - aqui está a diferença para tanto filme) até chegarmos ao quadro final para vermos os créditos - que aqui são as fotos que surgem no fim do da película.

Isto para não falar de outros aspectos relevantes: a química extraordinária entre os pouco conhecidos actores do elenco, e a banda sonora que não sendo propriamente genial, retrata bem as peripécias do filme. E tudo isto conflui com os outros ingredientes todos fazendo desta ressaca uma cena bem agradável.



Em suma: funceminam. Bruno é comédia escatológica para chocar espectador, fazer rir e para nos alertar sobre muito preconceito. Tudo isto resulta. The hangover é filme para rambóa: rir, entreter, passar um bom bocado e vir para casa a pensar que temos de fazer uma viagenzinha com os amigos.

Obviamente que bruno é um filme mais rico cinematograficamente falando e com uma pretensão a meu ver superior a the hangover, e que consegue atingir. The hangover é um filme simples que quis ser simples. E essa é, sem sombra de dúvida, um dos maiores motivos por eu gostar tanto do filme. È o típico filme de 7/10 para ver vezes sem conta. È como aqueles discos que nem achamos nada de especial mas estamos sempre a ouvir porque ficam no ouvido. The hangover é isto. Mas na verdade ambos são como a batedeira: funcionam.

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