sexta-feira, 24 de julho de 2009

A geração do meio.

O meio. Diz não sei quem que no meio é que está a virtude. Pois não sei. Mas eu faço parte da geração do meio. Ou do princípio. Ou do fim. Mas por nunca aquela que fica ligada à história.

No meio dos oitentas. Um gajo foi puto no início dos noventas e fim de oitentas.Fomos a última geração a ir brincar para a rua partindo cabeças, esfolando pernas, sofrendo diversas mazelas que nunca nos fizeram mal. Os nossos pais ainda não nos chateavam com a segurança que tinham por nós ficarmos em casa. Fomos também os mais assíduos espectadores da rua sésamo, ou mesmo do dartacão que surgiu por cá na nossa altura - ou pelo menos a gente acha que sim. E começámos nós a ver as coisas made in japão: o dragon ball que enchia os bares da escola quando dava, e a sailor moon para as miúdas. e os cavaleiros do zodíaco. E os motoratos de marte. E os power rangers.


Ainda tínhamos consolas onde as três dimensões não existiam, e fomos os primeiros a usufruir da nova geração de jogos que deu um pulo gigantesco. Ainda assim para nós o sonic ou o supermario são bons à antiga: 2d práfrente.


Não tínhamos centros comerciais. O maior de todos ainda era o amoreiras para onde toda a gente ia(ainda hoje passei por ele). Quando o colombo apareceu já éramos donos e senhores de nós, embora tenhamos ficado fascinados com o tamanho do monstro. Mas o normal era ir-se ao amoreiras outrora cheio, para ficarmos siderados com as lojas de jogos ou televisores, ou com as cenas que faziam na zona das escadas. Era também ali que um puto à séria muitas vezes comprava material escolar - ou então siga à rua da esquina.

Aquilo que se lia era a uma aventura. Toda a gente lia disso, ou pelo menos o povo que curtia ler. Não fomos os primeiros a desbravar a colecção mas talvez tenhamos apanhado um dos seus auges.

Fomos os primeiros putos a ter os quatro canais. Lembramo-nos de como era só ter canal um e dois mas tínhamos uns 8/9 anos quando apareceram sic e tvi. Na altura a sic era uma desbocada porque tinha a playboy e a tvi uma estação chata como tudo porque só tinha missa e a amiga olga à hora de almoço. Ah mas tinha baywatch e esquadrão classe à às segundas à tarde - e toda a gente via.

Fomos os primeiros a usar computador e net. Ter pc na altura era um luxo. A sala de informática da minha escola passou a ter pc's praí no oitavo ano e ninguém sabia mexer naquilo. Onde se imprimiam as coisas? E o teclado que era lixado de encontrar as letras?E A ligação à net fazia aquele barulho parvo, e pagava-se cada minuto que se ia lá? E pois claro o telefone ficava interrompido. Ver pornografia era mais complicado... E fomos a geração que descobriu o irc, ferramenta bem arcaica comparada com o msn mas por um lado bem melhor porque permitia conhecer povo desconhecido. E havia um convívio muito maior em comunidade. Ia-se ao pc da escola, da biblioteca e com sorte havia alguém conhecido que tinha um. Mas dos comuns mortais eram poucos os felizes contemplados.

Haviam muitas modas. Os diabolos, aquela cena parva que tinha os paus e a corda e o povo fazia habilidades. Foi também no nosso tempo que o boom das boys e girls band se deu. Dantes já haviam algumas mas as spice girls, backstreet boys e afins eram a moda da altura. Depois apareceram os offspring com o americana e, inexplicavelmente, toda a gente ouvia aquilo. E depois disso mudámos para os vengaboys...era assim mesmo. O critério era nulo, o género musical pouco interessava-Desse tempo ainda me lembro das bandas merdosas que iam à roda dos milhões do jorge gabriel...pois na adolescência apanhámos com os programas parvos da sic e com o big brother.

Não éramos os putos de início de 80 que gostam muito de dizer que não tinham nada (e nós já não tivemos verão azul ou mesmo tom sawyer) nem os dos noventas que nós já achamos que tinham tudo. Estamos no meio. Apanhámos o fim das cabeças partidas e brincadeiras na rua e o início da informatização dos putos. Acabámos com o national geographic e começámos com o magalhães.


Somos também dos primeiros agora a sofrer com o raio da crise. Saímos da faculdade e emprego nicles. Podem-me dizer que antes também era assim, mas parece-me que nós estamos a sofrer mais com estes efeitos que o povo de há dez anos. E somos a verdadeira geração dos 500 euros: a geração do call center e recibo verde. Que tenta viver desenrascada. Quando éramos putos tínhamos que suar para ter as coisas, mas tínhamos mais depressa do que os que vieram antes.

Nós somos um limbo: quando fazem textos parvos sobre nostalgias geracionais, tipo aquele que toda a gente acha ser do nuno markl mas não é, identificamo-nos à bruta. Mas somos os últimos a identificarmo-nos. E o texto nem foi feito bem para nós. Uns acham-nos uns putos mimados, os outros uns aventureiros. Porque começámos com os pc's e tv cabo e acabámos com a bicicleta e jogo de bola na rua que era interrompido com um carro a passar.

Mas somos nós a ponte.

E, mal ou bem, aproveitámos ambos os mundos para agora podermos recordar as alturas em que nos esfolávamos todos e criticar as gerações vindouras à pala disso, e ao mesmo tempo dar baile às gerações mais antigas acerca de pc's, videojogos e coisas do género. Somos a prova de que foi possível conviver nos dois universos sem que perdêssemos o melhor de cada um deles. E os outros que se amanhem.

Quanto às outras gerações...que se foda. Daqui a 10 anos vão estar a criticar a geração seguinte e a nomear as coisas radicais que faziam. E será sempre assim. A génese de cada geração está em achar-se melhor que as outras.E toda a gente que viveu nos intervalos de ambas pode-se rir e falar mal tanto de uma como outra. E isso é mel do bom.

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